quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O CABRITINHO NA CIDADE


Era uma vez uma cabra que vivia na Serra da Estrela. O seu marido, o bode, morreu quando ela estava prenha. Ela ficou muito triste porque não podia cuidar do seu filhinho sozinha.
Um dia, a cabra encontrou outro bode ainda mais bonito do que o seu marido, começou a gostar dele e apaixonaram-se. Num dia, ao nascer do sol, nasceu o seu filho, um cabritinho, branquinho e muito pequenino. O bode viu a cabra sozinha com o seu filhote e pediu-lhe para se juntar a ela e juntos cuidarem do cabritinho.
O cabritinho cresceu com a sua mãe e com o seu pai do coração e era muito feliz naquela família.
Um dia, quando pastava perto de um rio, viu um grupo de turistas que conversavam sobre as suas vidas na cidade. Ao ouvir estas conversas ficou curioso e começou a imaginar o que se passaria para lá da sua terra.
Quando ele já estava maior quis saber o que se passava para além do seu campo, verde, ventoso e calmo. Quando a cabra estava a namorar com o bode o cabritinho aproveitou e fugiu para a cidade.
Seguiu um vendedor que vendia couves, alfaces,... até à cidade.
Na cidade viu paredes muito altas, homem parados (estátuas), pessoas que corriam de um lado para o outro, carros a grande velocidade que deitavam um cheiro esquisito, muitas luzes e muitas coisas que nunca tinha visto.
Ficou muito admirado com tanta coisa que nunca tinha visto e ao mesmo tempo muito assustado.
A cidade estava barulhenta e agitada quando um senhor, da sua janela reparou no cabritinho perdido, na rua. Desceu as escadas, abriu a porta da rua e dirigiu-se ao cabritinho e levou-o para casa. Ao ver o senhor António o cabritinho ficou confuso porque nunca o tinha visto, mas como estava atrapalhado e desorientado aceitou a ideia de ficar com ele.
Quando a cabra reparou que o cabritinho tinha fugido, ela e o bode, ficaram muito nervosos e tristes, porque não sabiam onde o encontrar. Procuraram em todos os sítios e esconderijos, mas não o encontraram. Então atravessaram a ponte e partiram para a cidade para encontrar o seu filho. Pediram autorização para colar uns cartazes que diziam: “procura-se cabritinho branquinho” e pede-se que o entregue aos seus pais. Passados alguns dias o senhor António olhou para a rua e viu os cartazes e procurou o casal. Estava o bode e a cabra na rua sentados num jardim relvado, mas muito tristes e a choramingar. Quando o senhor António os avistou logo se lembrou que eram os pais do cabritinho.
Então chamou o cabritinho e disse-lhe:
-Encontrei os teus pais, já não precisas de ter medo. Queres ir com eles?
-Sim, quero encontrá-los, mas não quero voltar já para o campo, pois ainda não conheci a cidade. A propósito como é que se chama a cidade?
-A cidade chama-se Liberdade. Vamos ter com os teus pais, para conversares com eles e os cumprimentar.
Um pouco envergonhado, ao lado do seu amigo António, seguiu até ao jardim onde os pais desesperados o procuravam.
Ao avistarem o filho a cabra correu para o abraçar, com a pata fez-lhe uma festa nas orelhas, uma cócega no pescoço e um beijo na testa. O pai aproximou-se dos dois e abraçou com saudade e carinho o seu filhinho. O cabritinho envergonhado pediu desculpa aos pais e explicou porque tinha saído do curral sem os avisar, dizendo-lhes que pensou que ao pedir-lhes eles poderiam dizer-lhe que não e ele queria muito conhecer a vida atribulada da cidade da Liberdade.
A mãe respondeu-lhe:
-As desculpas não resolvem a situação, nunca deverias sair do curral sem a nossa autorização e conhecimento, porque podias ter sido atropelado, roubado, violado ou mesmo morrido. Não podes andar sozinho em sítios que não conheces porque ainda és muito novo.
O pai acrescentou:
-Não voltes a fazer isto, pois nós ficámos muito preocupados com o teu desaparecimento. Devias ter-nos dito que querias ir à cidade.
-Se nos pedisses para ir à cidade nós dizíamos que sim e íamos contigo, não precisavas de ter fugido.
Mas os três exclamaram:
-Estamos felizes por voltarmos a estar juntos!
Então os três foram passear pela cidade da Liberdade e descobrir os encantos e recantos daquela bonita cidade.
Como os pais já conheciam a cidade levaram-no ao Castelo da Liberdade onde tinha nascido o Rei Guilherme. Era um castelo com grandes ameias e uma torre muito alta, de onde se avistava toda a cidade, o rio da Alegria e também o campo verdejante de onde eles vinham. De seguida foram para o Mosteiro da Alegria onde puderam observar grandes salas onde estavam os túmulos o Rei Guilherme e da Rainha Jaqueline. Numa outra sala havia uma exposição que apelava à protecção dos animais. Ao ver aquilo ficaram emocionados, pelo respeito que as pessoas dedicam aos animais. Na outra sala estavam expostos os retratos dos reis que tinham reinado naquele país: D.Guilherme I, D.Rui I, D.Guilherme II, D.Rui II e D.Tiago I...
Entraram na sala onde os monges se reuniam e assistiam à missa, viram o altar pintado em talhadourada e grandes quadros que representavam a Sagrada Família. Num dos corredores havia a estátua de um bode. O cabritinho regalou os olhos pois pensou que era o retrato do seu pai. Mas não era, o pai explicou-lhe que aquela estátua pertencia ao bode Castanho que ganhou os jogos da animaláxia em mil novecentos e nove. A visita seguiu para o museu da cidade onde havia vestígios sobre a vida dos animais. À porta estava um cartaz que dizia: Saiba aqui toda a história do reino animal. Entraram e ficaram espantados com os retratos de animais que nunca tinham visto, na sua vida. Depois deste grande e maravilhoso passeia os seus estômagos começaram a ficar com muita fome, repararam que à sua volta nada havia para comer, lembraram-se que havia um jardim com erva fresquinha, flores coloridas e cheirosas. Foram procurar o jardim para satisfazer a sua fome. Quando estavam a comer a deliciosa erva o jardineiro apareceu, com umas bochechas muito vermelhas e um ar muito zangado, gritou:
-Cabritos! Saiam daqui! Não podem comer a minha erva e as minhas flores, pois isto não é comida para animais, é para a cidade estar bonita.
Eles assustaram-se, não perceberam porque não podiam comer a erva do jardim e até pensaram que o jardineiro estava louco.
Trocaram olhares e resolveram voltar para o campo. A cidade era bonita mas nada tinha para comer e não era sítio para os animais viverem.
À cidade o cabritinho só voltou mais tarde quando era adulto e quis mostrar a cidade da Liberdade aos seus filhos.

“Os Finalistas da B”

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